Fanboy: aquela criança que não devia trabalhar com TI

Ah, aquela galerinha enfurecida que não devia trabalhar com TI

Fanboys: como vivem? De onde vêm? Como se reproduzem? Como evitá-los?

Quando interajo com um fanboy a sensação de riso costuam surgir. Convenhamos: é risível, mas sabe o que acho interessante? Temos apenas uma fina camada de comicidade ocultando uma realidade trágica. O nome deste padrão se chama pateticidade, e acredito que possa ser aplicado sem problemas a qualquer fanboy.

Antes de começar, vou primeiro definir o que chamo de fanboy.

É aquele que se apega a determinado objeto de consumo ou tecnologia apaixonadamente, e o defende cegamente de qualquer crítica muitas vezes ignorando as próprias limitações da coisa.

A palavra boy não está embutida em fanboy por acaso: imaturidade está na essencia destas criaturas. E neste momento eu me pergunto: por que este apego todo? Simples insegurança?

Vejo o fanboy como um ser infantilizado, irracional e inseguro que se apega a algum bem de consumo ou tecnologia e o defende cegamente sem perceber o mal que faz a si próprio. Resumindo: é um tolo.

O que será que isto me lembra hein?

Convenhamos: todos nós passamos por este estado de vez em quando. É natural quando descobrimos algo que achamos ser o máximo e nos empolgamos com isto. O sentimento de decepção é sempre muito triste: o problema do fanboy consiste na sua incapacidade de lidar com esta sensação.

(é aquela mesma sensação que as crianças sentem ao perceberem que seus pais não são perfeitos)

E sabe o que é pior? Estes caras transformam a TI em um inferno.

Por que estas crianças não deveriam brincar de TI

O “logia” de “tecnologia” vêm de logos, que em grego significa basicamente racionalidade. Trabalho racional não deve em hipótese alguma permitir a entrada de… adivinha! Irracionalidade. Sejamos pragmáticos: (fan)atismo não funciona nesta área.

Uma coisa é ser apaixonado pelo próprio ofício (eu sou). Outra completamente diferente é ser incapaz de perceber dois fatinhos muito basicos da vida adulta:

  • Não existe uma solução única para todos os problemas (a famigerada bala de prata)
  • Perfeição é uma meta inatingível (o que não quer dizer que você deva evitá-la)

É muito comum encontrarmos consultores que ao enviarem suas propostas de trabalho a um cliente normalmente incluem como única opção a substituição de sistemas legados (desenvolvidos em tecnologias diferentes do objeto de adoração) por algo inteiramente “novo, moderno, revolucionário e inovador” feito em hyperlang. A consequência é óbvia: o cliente fica maravilhado em um primeiro momento e normalmente ferrado pouco tempo depois (Joel Spoolsky tem um texto ótimo sobre isto, clique aqui). Esse pessoal é incrívelmente cretino: se esquecem de que código legado existe porque normlamente funciona (mas isto é papo para outro post).

(interessante observar que a palavra “revolucionário” também pode significar “retrocesso”)

Sempre vejo alguns comportamentos típicos em um fanboy:

  • Aquele que não opta pelo seu time é visto como um pobre coitado incapaz de conseguir entender aquela “inteligência superior”
  • Raiva surge (às vezes acompanhada de choro) quando questionados
  • Maniqueismo total: não existe meio termo. Objeto de adoração, bom, objeto concorrente, mau, muito mau!
  • Possuem uma atitude típicamente arrogante-cool. São pessoas “cool”, que simplesmente ignoram e tratam como infantis todos os discordantes (o bacana é que normalmente a arrogância é fruto da ignorância). “Não perca tempo discutindo… eles não sabem o que é bom…”

Como nascem estes monstrinhos?

Fantoches de corporações

Já assistiu a uma daquelas apresentações da Apple em que se o CEO arrotar a platéia aplaude? Yeap: boa parte dos fanboys são meros fantoches de corporações, que tentam criar a idéia de que seus clientes são mais inteligentes, bacanas, fodásticos e tudo mais.

Claro, os fanáticos retribuem com suas oferendas verdes a estas empresas crentes de que estão sendo tratados com respeito e como seres superiores que acreditam ser.

O desejo de ser como Fulaninho Cool

As pessoas são carentes. Muitas vezes ao escolhermos um modelo e não possuirmos uma boa auto estima acabamos por segui-los cegamente. “Se fulano programa em Kronks, e ele é tão bacana, é lógico que este é O único caminho a ser seguido”.

Simples incompetência

Não raro o fanboy defende cegamente sua ferramenta de trabalho porque só sabe obter o resultado X (por exemplo, desenvolver pra web) com ela, que foi a única que conseguiu aprender a usar. “Não consigo fazer X com nada que não seja Y. Logo, tudo o que não é Y fede!”

Como morre um fanboy?

A única maneira de aniquilar a praga é torcendo para que ele cresça. O amadurecimento fica nítido quando percebemos que quando o nosso objeto de adoração sai de cena isto normalmente ocorre não porque existe uma corporação cruel que a destruiu por pura maldade mas sim porque uma alternativa mais eficiente entrou em seu lugar.

Há casos em que nosso objeto de idolatria se torna obsoleto devido a crueldade dos concorrentes? Claro, mas olhando friamente fica nítido que são situações raríssimas. Convém lembrar que é preciso mais que um ataque corporativo nuclear para destruir algo: é necessário o mercado atuar.

Os que não amadurecem, bem: Darwin os executa. Terminam extintos porque não conseguiram se adaptar.

Agora, sabe qual a grande sacanagem? É que normalmente quem paga pela imbecilidade dos fanáticos é quem não tem nada a ver com isto: o cliente.


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Comentários

10 respostas para “Fanboy: aquela criança que não devia trabalhar com TI”

  1. Avatar de Dyego Souza Do Carmo
    Dyego Souza Do Carmo

    Simplesmente perfeito, PARABENS.

    1. Avatar de Kico (Henrique Lobo Weissmann)
      Kico (Henrique Lobo Weissmann)

      Thanks man

  2. Avatar de Johnathan Cardoso
    Johnathan Cardoso

    Compartilho da sua ideia e confesso que tenho certa raiva de gente assim. Eu tento suportar e aceitar as diferenças mas não concordo com certas posturas.

    Uma delas que tenho notado ao observar um fanboy é que o fato de ele entender bem da tecnologia com a qual ele trabalha, o faz pensar que trabalhar com qualquer outra é tão simples quanto. O fato é que o mundo se fechou pra ele de tal forma que a capacidade dele de raciocinar a respeito das dificuldades parece ter sido afetada.

    Ser o fulaninho cool, cheio de gadgets e com ter um vocabulário e estilo descolado só funciona com quem não entende de tecnologia, quando você é um “macaco velho” da área, sabe que o buraco é bem mais embaixo e que o fulaninho precisa comer muito feijão e levar muito na cabeça pra quem sabe algum dia poder dizer que alguma tecnologia é melhor que a outra ou não. Até lá, a tecnologia de hoje estará obsoleta e o caminho percorrido talvez o fará ver que o que ele sabe não é nada comparado ao que se pode saber.

    Cheguei a esse artigo por conta de um tweet da @loiane.

    1. Avatar de Kico (Henrique Lobo Weissmann)
      Kico (Henrique Lobo Weissmann)

      Sabe Johnathan, na minha opinião temos a obrigação não de ter ódio destas crianças, mas sim alertar o pessoal “não técnico” a respeito de sua existência, porque como eu disse, quem de fato se ferra no final das contas não são os colegas de trabalho destes infantes (pelo contrário, normalmente o fanboy é motivo de piada dentro do escritório), mas o consumidor final.

      Já vi diversas ocasiões em que sistemas perfeitamente funcionais, que precisavam apenas de uma integração ou expansão eram completamente substituidos por uma solução PIOR só porque o “consultor” achava “mais cool” o seu próprio brinquedo.

      O foco é o cliente, sempre: esta é a pessoa que precisamos ensinar a, não ter raiva destes cretinos, mas simplesmente saber evitá-los.

  3. Avatar de Kico (Henrique Lobo Weissmann)
    Kico (Henrique Lobo Weissmann)

    Por acidente topei com um exemplo na Química em que o xiitismo pode simplesmente destruir a evolução técnica.

    Tratam-se dos quase-critais (quasicristals): que hoje são usados para construir alguns dos objetos metálicos mais afiados e resistentes do mundo.

    Seu descubridor foi massacrado pela comunidade científica que sequer queria pensar a respeito do assunto (um outro tipo de fanboy, é verdade).

    Segue o link: http://www.youtube.com/watch?v=V2GqU6fdjeQ&feature=related

  4. Avatar de fanboy
    fanboy

    Faltou falar dos fanboys da liberdade!

    Em “A Politica” aristoteles fala sobre diversas formas de governo. Ele mostra que a democracia ao contrario do que todos imagina é uma pessima forma de governo (dentro do contexto humano das aplicacoes das leis).

    Ou seja, nao podemos considerar uma tecnologia boa usando como fator apenas a liberdade. Pois nem mesmo um governo pode ser considerado bom apenas pela liberdade.

    No artigo muito se falou do “fulaninho cool” mas gostaria de ver falando do “piratinha cool”…

    Eu fui fanboy de linux. Hoje sou usuario Apple.
    Hoje pago pelas minhas músicas, meus apps e livros e revistas em quadrinhos.
    Porem ainda baixo dezenas de gigas mensais em seriados “pirateados na internet”.
    Poderia pagar por netflix mas quero consumir conteudo “AGORA!”.
    A serie THE Walking dead eu assisto no itunes e pago 2 dolares por episodio. Muito JUSTO! Porem o resto sou OBRIGADO a piratear.

    Por que falei sobre isso?
    por que todos os que rotulam “fanboys da apple” geralmente são “piratinhas cools”…
    Exemplo: Itunes é um sistema fechado eu tenho que ficar sincronizando “e não consigo copiar minha musica pirada do pendrive para o iphone no momento que eu quero”.
    Todas as reclamações contra a apple são de pessoas que de alguma forma estão agindo ilegalmente.
    Se vc é uma pessoa que precisa de milhares de musicas vc deveria contratar um servico estilo http://www.rdio.com (netflix para musicas).
    Se vc é uma com um gosto musical definido o itunes supre as suas necessidades.
    Se vc tem cds que foram “comprados” fora do itunes vc pode ainda importar eles para itunes e usar normalmente. “Se” quiser sincronizar com todos os seus dispositivos pela nuvem (sem usar o cabo no itunes) pode contratar o itunes match.

    Ou seja, não a perda de liberdade em nenhum momento para as pessoas que agem dentro da legalidade.

    Tenho mais medo dos fanboys do google(leiase android) do que os fanboys da apple. Os fanboys do google vivem num caminho perigoso numa linha tenue entre liberdade e vandalismo.
    E só porque possuem “mais” liberdade acham que sua solução é a melhor para “todos”.

    1. Avatar de Leandro
      Leandro

      Poderia explicar esse lance de vandalismo? Fiquei curioso.

      1. Avatar de Kico (Henrique Lobo Weissmann)
        Kico (Henrique Lobo Weissmann)

        Opa, não havia ligado as coisas.

        Tem a mesma origem: você vê a fé cega em alguma coisa ou assunto e com isto acaba destruindo tudo ao redor achando que está construindo.

        O vândalo, apesar de ser um destruidor, no final das contas, acha que está gerando algo pra alguém (nem que seja pra si próprio sob a forma de participação no ato).

        É o mero ato destrutivo gerado a partir da fé impensada e cega.

  5. Avatar de Daniel
    Daniel

    Oi kiko. Excelente artigo. Já fui fanboy um dia mais depois tive meu choque de realidade. Essa situação que você descreve é muito semelhante a idade média quando a igreja queimava aqueles indivíduos que tinham idéias diferentes pelo simples fanatísmo que tinham de suas idéias bíblicas (Nada contra religiões, simplesmente exemplificando.). Como vc mesmo diz qualquer tipo de fanatismo cego destroi a humanidade, devemos ter a mente aberta quando for preciso.

  6. Avatar de Igo Marques
    Igo Marques

    Macho, que post sensacional, sei que já tem um tempo, mas coisas assim são eternas! Há algum tempo vi vários exemplos disso na faculdade, os caras montaram um fórum só para expor seus fanatismos (e olhe que não estou falando apenas de alunos). Confesso que não me aguentei e tirei onda com todos eles porque esse tipo de comportamento é realmente “risível”! Vou colocar um link deste post lá, vai que ajude!
    Parabéns, cara!

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