Sempre que ouvia falar em COBOL, vinha a imagem de uma tecnologia ultrapassada, esquecida e fedorenta. Óbviamente, fruto do meu preconceito. Na realidade, até então, eu nunca havia visto uma linha sequer de Cobol na minha frente!
Sei que muitos compartilham comigo esta primeira impressão também ficarão chocados com alguns fatos bem interessantes sobre Cobol:
- Em 1999, o grupo Gartner fez uma pesquisa e concluiu que 80% das aplicações corporativas em execução no mundo naquele momento eram escritas em Cobol. Os outros 20% eram compartilhados pelas demais linguagens. Este dado tem 9 anos hoje, no entanto, a realidade não deve ser tão diferente nos dias atuais. Basta levar em consideração que BOA parte deste código estava presente em aplicações de missão crítica que, com alta probabilidade, ainda estão em execução hoje. Aliás, um estudo mais recente do mesmo instituto, comprovou que atualmente (artigo de 2006), há aproximadamente 180 bilhões de linhas de código escritas em Cobol em execução atualmente. Uou!
- Cobol é orientado a objetos. O padrão Cobol 2002 aceita orientação a objetos. E tanto Fujitsu quanto Microfocus oferecem compiladores que suportam o paradigma. Mais interessante ainda: se você programa na plataforma .net, pode experimentar Cobol se quiser. Aliás, logo aparecerá um compilador para Java também. É apenas questão de tempo.
- Em 2002, uma pesquisa do grupo Gartner comprovou a existência de dois milhões de programadores Cobol no mundo.
- Cobol paga bem. Dada a necessidade por profissionais que saibam trabalhar com Cobol, e a escassez de mão-de-obra, temos como resultado um aumento significativo dos salários destes programadores. Os salários podem chegar a até R$ 12.000. No exterior, a situação é ainda melhor.
- Programas feitos em Cobol costumam ficar em execução por décadas, ou seja, estes sistemas estão em execução não porque simplesmente “já existem”, mas sim porque são extremamente fáceis de se manter. Boa parte do problema do agora risível “bug do milênio” se deveu ao fato de que os desenvolvedores iniciais daquelas aplicações (a maior parte, escrita em… adivinha!) não imaginava que elas fossem durar tanto tempo.
Dado que o ponto forte de venda de plataformas como Java e .net é justamente a facilidade de manutenção destes sistemas, soa quase “conspiracionista” pensar no porquê deste fato ser tão pouco mencionado. - A sintaxe não é horrível. Sério: eu imaginava que a sintaxe do Cobol fosse algo ridículamente complexo e, para a minha surpresa, é incrívelmente simples. Parece inclusive linguagem coloquial, tal como nos exemplos abaixo:
MULTIPLY B BY B GIVING B-SQUARED. MULTIPLY 4 BY A GIVING FOUR-A. MULTIPLY FOUR-A BY C GIVING FOUR-A-C. SUBTRACT FOUR-A-C FROM B-SQUARED GIVING RESULT-1. COMPUTE RESULT-2 = RESULT-1 ** .5. SUBTRACT B FROM RESULT-2 GIVING NUMERATOR. MULTIPLY 2 BY A GIVING DENOMINATOR. DIVIDE NUMERATOR BY DENOMINATOR GIVING X.
Como pode ser visto no exemplo acima, na realidade, é extremamente coloquial!
Claro, o exemplo que dei acima é péssimo. Trata-se da execução da fórmula de Bhaskara (lembra? Para se calcular equações de segundo grau…). Isto quer dizer que você não pode escrever fórmulas complexas em Cobol? Claro que não, veja o exemplo abaixo:
COMPUTE X = (-B + (B ** 2 - (4 * A * C)) **.5) / (2 * A)
Após tomar conhecimento destes fatos, uma pergunta fica: por que tão poucas pessoas sabem disto? Por que temos a impressão de que as linguagens mais utilizadas são Java, C/C++, C#, Visual Basic, PHP ou outras? Simples: por causa do mercado no qual Cobol é focado.
Cobol foi desenvolvido para a criação de aplicações de negócios, ou seja, não se trata aqui do mercado horizontal (que produz software de prateleira, ou componentes que são feitos para serem distribuídos), mas sim do mercado vertical, ou seja, Cobol é mais utilizado na confecção de aplicações internas para empresas. Aplicações estas que, normalmente, jamais sairão do ambiente para o qual foram desenvolvidas. Este é o porquê. Ao vermos uma aplicação como o Word, por exemplo, sendo vendida aos milhões, passamos a achar que C++ é uma das linguagens mais utilizadas no mundo. No entanto, nos esquecemos de que esta aplicação foi desenvolvida por apenas UM pequeno grupo de desenvolvedores (em comparação ao resto).
E por que devemos nos preocupar com Cobol?
- Tal como expus acima: porque Cobol possui um mercado imenso, assim como as oportunidades que podem surgir do mesmo. Mais um fato interessante com relação ao mercado: foi estimado que o custo de substituição de código Cobol por código em outra linguagem gira em algo em torno de US$ 25,00 por linha de Código Cobol substituida. Uou!
- Para acabar com a ilusão de que nossa plataforma de desenvolvimento é a “mais linda do mundo” por ser relativamente recente. Só para lembrar: Cobol foi desenvolvido no final da década de 50. Foi uma das primeiras linguagens de programação e, até hoje, é utilizada em massa com relativamente poucas alterações desde sua introdução.
Cobol é a coisa mais linda do mundo? Não. É uma das sete maravilhas do mundo? Também não. Mas também, como pode ser visto, com certeza não é uma das maiores desgraças da história.
Conseguirá Java e C# por exemplo esta façanha? Atualmente, só conheço três linguagens que conseguiram: Cobol, Lisp e Fortran
E eu sei Cobol? Ainda não. ;)
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